domingo, 25 de dezembro de 2011

Homilia de Natal - Missa do galo - Bento XVI


HOMILIASanta Missa da Noite na Solenidade do Natal do Senhor
Basílica de São Pedro - Vaticano
Sábado, 24 de dezembro de 2011


Amados irmãos e irmãs!

A leitura que ouvimos, tirada da Carta do Apóstolo São Paulo a Tito, começa solenemente com a palavra "apparuit", que encontramos de novo na leitura da Missa da Aurora: "apparuit – manifestou-se". Esta é uma palavra programática, escolhida pela Igreja para exprimir, resumidamente, a essência do Natal. Antes, os homens tinham falado e criado imagens humanas de Deus, das mais variadas formas; o próprio Deus falara de diversos modos aos homens (cf. Heb 1, 1: leitura da Missa do Dia). Agora, porém, aconteceu algo mais: Ele manifestou-Se, mostrou-Se, saiu da luz inacessível em que habita. Ele, em pessoa, veio para o meio de nós. Na Igreja antiga, esta era a grande alegria do Natal: Deus manifestou-Se. Já não é apenas uma ideia, nem algo que se há-de intuir a partir das palavras. Ele "manifestou-Se". Mas agora perguntamo-nos: Como Se manifestou? Ele verdadeiramente quem é? A este respeito, diz a leitura da Missa da Aurora: "Manifestaram-se a bondade de Deus (…) e o seu amor pelos homens" (Tt 3, 4). Para os homens do tempo pré-cristão – que, vendo os horrores e as contradições do mundo, temiam que o próprio Deus não fosse totalmente bom, mas pudesse, sem dúvida, ser também cruel e arbitrário –, esta era uma verdadeira "epifania", a grande luz que se nos manifestou: Deus é pura bondade. Ainda hoje há pessoas que, não conseguindo reconhecer a Deus na fé, se interrogam se a Força última que segura e sustenta o mundo seja verdadeiramente boa, ou então se o mal não seja tão poderoso e primordial como o bem e a beleza que, por breves instantes luminosos, se nos deparam no nosso cosmos. "Manifestaram-se a bondade de Deus (…) e o seu amor pelos homens": eis a certeza nova e consoladora que nos é dada no Natal.

Na primeira das três leituras desta Missa de Natal, a liturgia cita um texto tirado do livro do Profeta Isaías, que descreve, de forma ainda mais concreta, a epifania que se verificou no Natal: "Um Menino nasceu para nós, um filho nos foi concedido. Tem o poder sobre os ombros, e dão-lhe o seguinte nome: 'Conselheiro admirável! Deus valoroso! Pai para sempre! Príncipe da Paz!' O poder será engrandecido numa paz sem fim" (Is 9, 5-6). Não sabemos se o profeta, ao falar assim, tenha em mente um menino concreto nascido no seu período histórico. Mas isso parece ser impossível. Trata-se do único texto no Antigo Testamento, onde de um menino, de um ser humano, se diz: o seu nome será Deus valoroso, Pai para sempre. Estamos perante uma visão que se estende muito para além daquele momento histórico apontando para algo misterioso, colocado no futuro. Um menino, em toda a sua fragilidade, é Deus valoroso; um menino, em toda a sua indigência e dependência, é Pai para sempre. E isto "numa paz sem fim". Antes, o profeta falara de uma espécie de "grande luz" e, a propósito da paz dimanada d’Ele, afirmara que o bastão do opressor, o calçado ruidoso da guerra, toda a veste manchada de sangue seriam lançados ao fogo (cf. Is 9, 1.3-4).

Deus manifestou-Se… como menino. É precisamente assim que Ele Se contrapõe a toda a violência e traz uma mensagem de paz. Neste tempo, em que o mundo está continuamente ameaçado pela violência em tantos lugares e de muitos modos, em que não cessam de reaparecer bastões do opressor e vestes manchadas de sangue, clamamos ao Senhor: Vós, ó Deus forte, manifestastes-Vos como menino e mostrastes-Vos a nós como Aquele que nos ama e por meio de quem o amor há-de triunfar. Fizestes-nos compreender que, unidos convosco, devemos ser artífices de paz. Amamos o vosso ser menino, a vossa não-violência, mas sofremos pelo fato de perdurar no mundo a violência, levando-nos a rezar assim: Demonstrai a vossa força, ó Deus. Fazei que, neste nosso tempo e neste nosso mundo, sejam queimados os bastões do opressor, as vestes manchadas de sangue e o calçado ruidoso da guerra, de tal modo que a vossa paz triunfe neste nosso mundo.

Natal é epifania: a manifestação de Deus e da sua grande luz num menino que nasceu para nós. Nascido no estábulo de Belém, não nos palácios do rei. Em 1223, quando Francisco de Assis celebrou em Greccio o Natal com um boi, um jumento e uma manjedoura cheia de feno, tornou-se visível uma nova dimensão do mistério do Natal. Francisco de Assis designou o Natal como "a festa das festas" – mais do que todas as outras solenidades – e celebrou-a com "solicitude inefável" (2 Celano, 199: Fontes Franciscanas, 787). Beijava, com grande devoção, as imagens do menino e balbuciava-lhes palavras de ternura como se faz com os meninos – refere Tomás de Celano (ibidem). Para a Igreja antiga, a festa das festas era a Páscoa: na ressurreição, Cristo arrombara as portas da morte, e assim mudou radicalmente o mundo: criara para o homem um lugar no próprio Deus. Pois bem! Francisco não mudou, nem quis mudar, esta hierarquia objetiva das festas, a estrutura interior da fé com o seu centro no mistério pascal. Mas, graças a Francisco e ao seu modo de crer, aconteceu algo de novo: ele descobriu, numa profundidade totalmente nova, a humanidade de Jesus. Este fato de Deus ser homem resultou-lhe evidente ao máximo, no momento em que o Filho de Deus, nascido da Virgem Maria, foi envolvido em panos e colocado numa manjedoura. A ressurreição pressupõe a encarnação. O Filho de Deus visto como menino, como verdadeiro filho de homem: isto tocou profundamente o coração do Santo de Assis, transformando a fé em amor. "Manifestaram-se a bondade de Deus e o seu amor pelos homens": esta frase de São Paulo adquiria assim uma profundidade totalmente nova. No menino do estábulo de Belém, pode-se, por assim dizer, tocar Deus e acarinhá-Lo. E o Ano Litúrgico ganhou assim um segundo centro numa festa que é, antes de mais nada, uma festa do coração.

Tudo isto não tem nada de sentimentalismo. É precisamente na nova experiência da realidade da humanidade de Jesus que se revela o grande mistério da fé. Francisco amava Jesus menino, porque, neste ser menino, tornou-se-lhe clara a humildade de Deus. Deus tornou-Se pobre. O seu Filho nasceu na pobreza do estábulo. No menino Jesus, Deus fez-Se dependente, necessitado do amor de pessoas humanas, reduzido à condição de pedir o seu, o nosso amor. Hoje, o Natal tornou-se uma festa dos negócios, cujo fulgor ofuscante esconde o mistério da humildade de Deus, que nos convida à humildade e à simplicidade. Peçamos ao Senhor que nos ajude a alongar o olhar para além das fachadas lampejantes deste tempo a fim de podermos encontrar o menino no estábulo de Belém e, assim, descobrirmos a autêntica alegria e a verdadeira luz.

Francisco fazia celebrar a santíssima Eucaristia sobre a manjedoura que estava colocada entre o boi e o jumento (cf. 1 Celano, 85: Fontes, 469). Depois, sobre esta manjedoura, construiu-se um altar para que, onde outrora os animais comeram o feno, os homens pudessem agora receber, para a salvação da alma e do corpo, a carne do Cordeiro imaculado – Jesus Cristo –, como narra Celano (cf. 1 Celano, 87: Fontes, 471). Na Noite santa de Greccio, Francisco – como diácono que era – cantara, pessoalmente e com voz sonora, o Evangelho do Natal. E toda a celebração parecia uma exultação contínua de alegria, graças aos magníficos cânticos natalícios dos Frades (cf. 1 Celano, 85 e 86: Fontes, 469 e 470). Era precisamente o encontro com a humildade de Deus que se transformava em júbilo: a sua bondade gera a verdadeira festa.

Hoje, quem entra na igreja da Natividade de Jesus em Belém dá-se conta de que o portal de outrora com cinco metros e meio de altura, por onde entravam no edifício os imperadores e os califas, foi em grande parte tapado, tendo ficado apenas uma entrada com metro e meio de altura. Provavelmente isso foi feito com a intenção de proteger melhor a igreja contra eventuais assaltos, mas sobretudo para evitar que se entrasse a cavalo na casa de Deus. Quem deseja entrar no lugar do nascimento de Jesus deve inclinar-se. Parece-me que nisto se encerra uma verdade mais profunda, pela qual nos queremos deixar tocar nesta noite santa: se quisermos encontrar Deus manifestado como menino, então devemos descer do cavalo da nossa razão "iluminada". Devemos depor as nossas falsas certezas, a nossa soberba intelectual, que nos impede de perceber a proximidade de Deus. Devemos seguir o caminho interior de São Francisco: o caminho rumo àquela extrema simplicidade exterior e interior que torna o coração capaz de ver. Devemos inclinar-nos, caminhar espiritualmente por assim dizer a pé, para podermos entrar pelo portal da fé e encontrar o Deus que é diverso dos nossos preconceitos e das nossas opiniões: o Deus que Se esconde na humildade dum menino acabado de nascer. Celebremos assim a liturgia desta Noite santa, renunciando a fixarmo-nos no que é material, mensurável e palpável. Deixemo-nos fazer simples por aquele Deus que Se manifesta ao coração que se tornou simples. E nesta hora rezemos também e sobretudo por todos aqueles que são obrigados a viver o Natal na pobreza, no sofrimento, na condição de emigrante, pedindo que se lhes manifeste a bondade de Deus no seu esplendor, que nos toque a todos, a eles e a nós, aquela bondade que Deus quis, com o nascimento de seu Filho no estábulo, trazer ao mundo.

Amém!




segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

A aposta de Pascal

Quem faz Filosofia ou alguma das Ciências Exatas tem que, obrigatoriamente, estudar o pensamento de Blaise Pascal, que viveu no século XVII.
Brilhante desde a infância, Pascal aos 8 anos de idade estudava (com o auxílio do pai, advogado) gramática, latim, espanhol e matemática.
Era um garoto excepcionalmente brilhante e, só para se ter uma ideia, com apenas 11 anos, ele reconstituiu as provas da geometria euclidiana até a Proposição 32.
Aos 12 anos, compôs sozinho um tratado sobre a comunicação dos sons e, aos 16, um outro sobre as divisões cônicas.
Já adulto, argumentando sobre a existência de Deus, Pascal fez surgir o famoso argumento da aposta.
Dizem que isso aconteceu quando Pascal e seus amigos estavam discutindo pensamentos numa praça da cidade de Paris.
Aqueles homens eram pensadores livres e não aceitavam a existência de Deus. Pascal era consciente disso e sabia também que eles apreciavam bastante um jogo de apostas.
Então, ele afirmou: "Aposto com vocês que, matematicamente falando, crer em Deus é mais lucrativo do que descrer dele."
"Como?" perguntou um de seus colegas.
"É simples", respondeu Pascal: "você pode, enquanto ateu, ter tudo o que um cristão possui: família, saúde, cultura, princípios etc. Enquanto ateu, você pode ainda argumentar que ninguém pode provar-lhe, com qualquer questionamento, que Deus existe. Logo, se você e um crente morrem, é possível dizer que a vida de vocês terminou num empate.
Tudo o que um teve, o outro também possuía. Assim, se você estiver certo em seu ateísmo, o empate continua, pois ambos terão o mesmo fim. Porém, se o crente estiver certo, então haverá um desempate, pois não será possível que ambos desfrutem da mesma sorte diante do juízo de Deus."
Portanto, concluiu Pascal:

Se eu creio em Deus e Deus existe, eu ganhei tudo.
Se eu creio em Deus e Deus não existe, eu não perdi nada.
Se eu não creio em Deus e Deus não existe, eu não ganhei nada.
Se eu não creio em Deus e Deus existe, então eu perdi tudo.


(Fonte: Livro "Eles criam em Deus - Biografias de cientistas e sua fé criacionista", p.31/34, editado. Casa Publicadora Brasileira, autor: Rodrigo P. Silva, doutor em arqueologia, enviado pelo Arauto Rafael Leal)

quarta-feira, 7 de dezembro de 2011

Mater Boni Consilli - Nossa Senhora do Bom Conselho


O afresco de Nossa Senhora do Bom Conselho de Genazzano

Na igreja da Madonna del Buon Consiglio, na pequena e bela cidade de Genazzano, encontra-se um afresco de mais de sete séculos de existência. Até hoje se desconhec e onde e por quem foi pintado. Terá sido seu autor um anjo? Será originário do Paraíso? São perguntas ousadas. Compreende-se que elas surjam, quando se conhece a história dos efeitos produzidos por essa piedosíssima imagem, ao longo dos tempos.

O afresco causa a impressão de ter sido pintado há poucos dias, mesmo se observado de perto. Porém, está há 535 anos junto à parede de uma capela lateral da igreja. Mais ainda: segundo atestam os documentos, tem-se mantido suspenso no ar durante todo esse tempo! Foi ele transladado de Scútari, Albânia, a Genazzano por ação angélica.

Assim descreve esses sobrenaturais acontecimentos um dos maiores entendidos na matéria:

"Trazida por mãos angélicas, encontrou-se (a imagem) suspensa ali na rústica parede da nova igreja, e com três novos singularíssimos prodígios então acontecidos. (...) A celeste pintura estava sustentada por virtude divina a um dedo da parece, suspensa sem nala fixar-se; e este é um milagre tanto mais estupendo se considerarmos que a referida imagem está pintada com cores vivas em fina camada de reboco, com a qual se destacou por si mesma da igreja de Scútari, na Albânia; como ainda pelo fato, comprovado mediante experiência e observações feitas, de que, ao tocar-se na Santa Imagem, esta cede" (Frei Angelo Maria De Orgio, Istoriche de Maria Santissima del Buon Consiglio, nela Chiesa de'Padri Agostoniani di Genazzano, 1748, Roma, p. 20)

No séc. XIX, renomado estudioso desse celestial fenômeno observou:

"Todas essas maravilhas (da Santa Imagem) se resumem, enfim, no prodígio contínuo que consiste em encontrarmos hoje esta imagem no mesmo lugar e do mesmo modo como ela aí foi deixada pela nuvem no dia de sua aparição, na presença de todo um povo que teve então a felicidade de vê-la pela primeira vez. Ela pousou a uma pequena altura do chão, a uma distância de aproximadamente um dedo da parede nova e rústica da capela de São Brás, e ali ficou, suspensa sem nenhum suporte" (Raffaele Buonanno, Memorie Storiche della Immagine de Maria, SS. Del Buon Consiglio Che si venera in Genezzano, Tipografia dell'Immacolata, Napoles, 20 ed., 1880, p. 44).


(Fonte: Arautos do Evangelho)

terça-feira, 15 de novembro de 2011

Santo Alberto Magno, bispo, Doutor da Igreja

Santo Alberto Magno, bispo, Doutor da Igreja, +1280

Foi, sem dúvida, um dos maiores sábios de todos os tempos.
Não dominava apenas, como Mestre, a Filosofia e a Teologia (matérias em que teve como discípulo S. Tomás de Aquino), mas também estendia seu saber às Ciências Naturais.
Foi físico e químico, estudou astronomia, meteorologia, mineralogia, zoologia, botânica, escreveu livros sobre tecelagem, navegação, agricultura. Tão assombroso acumular de ciência não o impediu, porém, de ser um piedoso e exemplar dominicano.

Nomeado Bispo de Regensburg, mostrou-se Pastor zeloso e exemplar; mas, logo que pôde, pediu e obteve dispensa das funções episcopais e retornou à sua cela de monge humilde e sábio.
Foi chamado o "Doutor Universal".

(fonte EQ)

quarta-feira, 9 de novembro de 2011

Dedicação da Basílica de Latrão

Hoje a Igreja universal celebra a festa da igreja-mãe de todas as igrejas de Roma e do mundo: a dedicação da basílica do Santíssimo Salvador ou de São João de Latrão. Esta basílica foi construída por Constantino na colina de Latrão ou Lateranense, quando era papa Melquíades (311-314). Ao contrário do que muitos pensam, é esta basílica e não a basílica de São Pedro, no Vaticano, o templo mais antigo. Aqui foram celebrados cinco Concílios ecuménicos. Nela se guardam relíquias. A festa de hoje tem um carácter importante, que é celebrar a unidade e o respeito para com a Sé Romana.

Fonte: EQ

segunda-feira, 7 de novembro de 2011

Perdoa-lhe!

Jean Tauler (c. 1300-1361), dominicano em Estrasburgo
Sermão 71, para o dia de Todos os Santos

«Perdoa-lhe»
«Felizes os misericordiosos, porque alcançarão misericórdia» (Mt 5,7). Diz-se que a misericórdia de Deus ultrapassa todas as Suas obras; e é por isso que um homem misericordioso é um homem verdadeiramente divino, porque a misericórdia nasce da caridade e da bondade. Por esta razão é que os verdadeiros amigos de Deus são muito misericordiosos e acolhem os pecadores e os que sofrem, contrariamente aos que não têm esta caridade. E, como a misericórdia nasce da caridade, devemos tê-la uns para com os outros [...]; se não a exercemos, no dia do juízo, Nosso Senhor pedir-nos-á uma justificação especial [...]

Esta misericórdia não consiste somente em dar, mas exerce-se também em relação a todos os sofrimentos que podem abater-se sobre o próximo. Aquele que vê isso sem testemunhar aos seus irmãos uma verdadeira caridade e uma autêntica compaixão por todos os seus sofrimentos, e não fecha os olhos às suas faltas, com um sentimento de misericórdia, esse homem tem razão para temer que Deus lhe recuse a Sua misericórdia, porque «conforme o juízo com que julgardes, assim sereis julgados» (Mt 7,2).

(fonte: Evangelho Quotidiano)

sexta-feira, 9 de setembro de 2011

Nas tempestades da vida, onde Jesus está, nada é abalado


Recebi pela net.. A foto e noticia sao verdadeiras. Os comentarios vieram no email.

(noticia original Link)

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Veja bem essa imagem.

Essa igreja de Erechim foi destruída devido a forte tempestade !!!

Apenas uma parede ficou intacta... Onde está o sacrário e o crucifixo !!!

Perceba que nem a florzinha ao lado foi derrubada. Nem as cadeiras saíram do lugar.

Uma imagem de Nossa Senhora está ao lado esquerda da foto, no chão, mas em pé.

Muitas mensagens pode-se tirar disso.

Uma delas:

Nas tempestades da vida, onde Jesus está, nada é abalado.

Assim, quando trazemos Jesus no coração, não caimos.

Ficamos firmes, pois Ele nos sustenta.

Ele é o Senhor, que acalma os ventos e a tempestade.

Cremos Senhor, mas aumentai sempre mais a nossa fé!

Pe. Wilson

sexta-feira, 29 de julho de 2011

SANTA MARTA


I. A FESTIVIDADE DE SANTA MARTA permite-nos entrar uma vez mais no lar de Betânia, tantas vezes abençoado pela presença de Jesus. Ali, numa família formada pelos três irmãos, Marta, Maria e Lázaro, o Senhor encontrava carinho, e também descanso para o seu corpo fatigado pelo incessante ir-e-vir entre aldeias e cidades. Jesus procurava refúgio nesse lar, sobretudo quando tropeçava mais freqüentemente com a incompreensão e o desprezo, como aconteceu na última época da sua vida na terra. Os sentimentos do Mestre para com os irmãos de Betânia foram anotados por São João no seu Evangelho: Jesus amava Marta e sua irmã Maria e Lázaro1. Eram amigos!

O Evangelho da Missa2 relata-nos a chegada de Jesus a casa dessa família, quatro dias após a morte de Lázaro. Pouco tempo antes, quando Lázaro já estava gravemente doente, as irmãs tinham enviado ao Mestre um recado cheio de confiança: Senhor, eis que está enfermo aquele que tu amas3. E Jesus, que se encontrava na Galiléia, a vários dias de caminho, tendo ouvido que Lázaro estava enfermo, ficou ainda dois dias no mesmo lugar. Depois, passados esses dias, disse aos seus discípulos: Vamos outra vez à Judéia4. Quando chegou a Betânia, havia quatro dias que Lázaro tinha sido sepultado.

Marta, sempre atenta e ativa, soube que Jesus vinha chegando e foi ao seu encontro. Aparentemente, o Senhor não tinha atendido ao seu recado, mas o seu amor e a sua confiança não diminuíram. Senhor – disse Marta –, se tivesses estado aqui, meu irmão não teria morrido...5 Censura-o com suma delicadeza por não ter chegado antes, pois esperava que o Senhor curasse o seu irmão quando ainda estava doente. E Jesus, com um gesto amável, talvez com um sorriso nos lábios, surpreende-a: Teu irmão ressuscitará6. Marta recebe essas palavras como um consolo, pensa na ressurreição definitiva e responde: Eu sei que há de ressuscitar no último dia7. Estas palavras provocam uma portentosa declaração de Jesus acerca da sua divindade: Eu sou a ressurreição e a vida; o que crê em mim, ainda que esteja morto, viverá; e todo o que vive e crê em mim não morrerá eternamente8. E pergunta-lhe: Crês nisto? Quem poderia subtrair-se à autoridade soberana dessa declaração? Eu sou a ressurreição e a vida! Eu...! Eu sou a razão de ser de tudo o que existe! Jesus é a Vida, não só a que começa no além, mas também a vida sobrenatural infundida pela graça na alma do homem ainda nesta terra. São palavras extraordinárias que nos enchem de segurança, que nos aproximam cada vez mais de Cristo e que nos levam a responder como Marta: Eu creio que tu és o Cristo, Filho do Deus vivo, que vieste a este mundo9. O Senhor, momentos depois, ressuscita Lázaro.

Admiramos a fé de Marta e quereríamos imitá-la na sua amizade cheia de confiança com o Mestre. “Viste com que carinho, com que confiança os amigos de Cristo o tratavam? Com toda a naturalidade, as irmãs de Lázaro lançam-lhe em rosto a sua ausência: – Nós te avisamos! Se tivesses estado aqui!...

“Confia-lhe devagar: – Ensina-me a tratar-te com aquele amor de amizade de Marta, de Maria e de Lázaro; como te tratavam também os primeiros Doze, ainda que a princípio te seguissem talvez por motivos não muito sobrenaturais”10.

II. TEMPOS DEPOIS, estando já próxima a Páscoa, Jesus visitou novamente aqueles amigos: Foi a Betânia onde vivia Lázaro, que Jesus ressuscitara dentre os mortos. E deram-lhe lá uma ceia; e Marta servia, e Lázaro era um dos que estavam à mesa com Ele11.

Marta servia... Com que amor agradecido o faria! Ali estava o Messias, na sua casa, ali estava Deus necessitado das suas atenções. E Ela podia servi-lo. Deus faz-se homem para estar muito perto das nossas necessidades, para que aprendamos a amá-lo através da sua Santíssima Humanidade, para que possamos servi-lo e ser seus amigos íntimos.

Não podemos deixar de considerar muitas vezes que o mesmo Jesus de Nazaré, de Cafarnaum, de Betânia, é quem nos espera no Sacrário mais próximo, “necessitado” das nossas atenções. “É verdade que ao nosso Sacrário chamo sempre Betânia... – Faz-te amigo dos amigos do Mestre: Lázaro, Maria, Marta. – E depois não me perguntarás mais por que chamo Betânia ao nosso Sacrário”12. Ali está Ele. Não podemos deixar de visitá-lo todos os dias..., e de permanecer em sua companhia durante esses minutos de ação de graças após a Comunhão, sem pressas, sem inquietações. Não há nada mais importante.

Ensina São Tomás que não houve outro modo mais conveniente de redimir os homens que o da Encarnação13. E aduz estas razões: quanto à fé, porque se tornava mais fácil crer, já que era o próprio Deus quem falava; quanto à esperança, porque a Encarnação era a maior prova da vontade divina de salvar os homens; quanto à caridade, porque ninguém tem maior amor que aquele que dá a vida pelos seus amigos14; quanto às obras, porque o próprio Deus nos ia servir de exemplo: assumindo a nossa carne, mostrava-nos a importância da criatura humana; com a sua humilhação, curava a nossa soberba...

Na Santíssima Humanidade de Jesus, o amor que Deus tem por nós toma forma humana, abrindo-nos assim um plano inclinado que nos leva suavemente a Deus Pai. Por isso, a vida cristã consiste em amar a Cristo, em imitá-lo, em segui-lo de perto, atraídos pela sua vida. A santificação não tem por eixo a luta contra o pecado, não é algo negativo; está centrada em Jesus Cristo, objeto do nosso amor: não consiste apenas em evitar o mal, mas em amar e imitar o Mestre, que passou fazendo o bem...15

A vida cristã é profundamente humana: o coração tem um lugar importante na obra da nossa santificação porque Deus se pôs ao seu alcance. E quando descuramos a vida de piedade, a amizade pessoal com o Mestre, deixando que o coração se disperse pelas criaturas, a força da vontade não basta para assegurar o progresso no caminho da santidade. Por isso, temos de esforçar-nos por ver Cristo sempre próximo da nossa vida, e servir-nos da imaginação para representá-lo vivo: uma criança que nasceu em Belém, um adolescente e homem feito que trabalhou em Nazaré, que teve amigos que amava e a quem procurou muitas vezes porque a sua companhia o confortava.

Aprendamos dos amigos de Jesus a tratá-lo com imenso respeito, porque é Deus, e com grande confiança, porque é o Amigo de sempre, que procura continuamente o nosso convívio.

III. EM OUTRA OCASIÃO, Jesus e os seus discípulos detiveram-se em casa desses amigos de Betânia antes de irem a Jerusalém. As duas irmãs começaram a preparar todas as coisas necessárias para hospedá-los. Mas Maria, talvez poucos minutos depois da chegada do Mestre, sentou-se aos seus pés e ouvia a sua palavra16, enquanto Marta cuidava sozinha do trabalho da casa. Maria despreocupou-se das inúmeras tarefas que ainda restavam por fazer e entregou-se completamente às palavras do Mestre. “A familiaridade com que se instalou aos seus pés [...], a fome de ouvir as suas palavras, demonstram que este não era o primeiro encontro, mas que existia uma verdadeira intimidade”17.

Marta não se mostra, com certeza, indiferente às palavras de Jesus; ela também as escuta, mas está mais ocupada nas tarefas domésticas. Sem perceber, deixou Jesus passar para um segundo plano: está absorvida nas coisas que tem de preparar para atendê-lo bem. E inquieta-se ao sentir-se sozinha, a braços com mais trabalho talvez do que aquele que podia realizar. Contempla então a sua irmã aos pés de Jesus e, presa de um certo desassossego, mas com grande confiança, posta-se diante de Jesus – como nota São Lucas – e diz-lhe: Senhor, não se te dá que minha irmã me tenha deixado só com o serviço da casa? Dize-lhe, pois, que me ajude18. Que grande confiança tem com o Mestre!: Dize-lhe que me ajude...

Jesus responde-lhe no mesmo tom familiar, como parece indicar a própria repetição do nome: Marta, Marta – diz-lhe –, tu te afadigas e andas inquieta com muitas coisas. No entanto, uma só coisa é necessária19. Maria, que deveria sem dúvida prestar ajuda à sua irmã, não esqueceu contudo o essencial, aquilo que é verdadeiramente necessário: ter Jesus como centro das atenções. O Senhor não louva toda a sua atitude, mas o principal: o seu amor.

Nem sequer as coisas que se referem ao Senhor devem fazer-nos esquecer o Senhor das coisas. Marta nunca esqueceria a amável censura do Senhor. Se o seu trabalho era importante, mais importante ainda era estar com o Senhor.

Nem sequer nas tarefas que se referem diretamente a Deus devemos esquecer que o principal, a única coisa necessária, é a sua Pessoa. E na nossa vida ordinária devemos ter presente que os assuntos que parecem primordiais, como o trabalho, também não podem antepor-se à família e muito menos a Deus. De pouco serviriam os nossos progressos – econômicos, sociais... – se a própria vida familiar viesse a deteriorar-se por ficar em segundo plano. Se um pai ou mãe de família ganha mais dinheiro, mas descuida o relacionamento com os filhos, de que adianta? Por maioria de razão, se os nossos deveres profissionais nos levam a esquecer as nossas orações habituais – uma breve leitura do Evangelho e outras práticas de piedade, que se intercalam com facilidade no meio das ocupações mais absorventes –, que sentido têm para um cristão?

Santa Marta, que goza para sempre no Céu da presença inefável de Cristo, alcançar-nos-á a graça de valorizarmos mais a amizade com o Mestre; ensinar-nos-á a cuidar com diligência das coisas do Senhor, sem esquecer o Senhor das coisas.

(1) Jo 11, 5; (2) Jo 11, 17-27; (3) Jo 11, 3; (4) Jo 11, 67; (5) Jo 11, 21; (6) Jo 11, 23; (7) Jo 11, 24; (8) Jo 11, 25; (9) Jo 11, 27; (10) Josemaría Escrivá, Forja, n. 495; (11) Jo 12, 1-2; (12) Josemaría Escrivá, Caminho, n. 322; (13) cfr. São Tomás, Suma Teológica, III, q. 1, a. 2; (14) Jo 15, 13; (15) At 10, 38; (16) Lc 10, 39; (17) M. J. Indart, Jesus en su mundo, pág. 36; (18) Lc 10, 40; (19) Lc 10, 41.

(FONTE: meditação do dia de "Francisco Fernández Carvajal" - http://www.hablarcondios.org/meditacaodiariaseguinte.asp - em português na Quadrante http://www.quadrante.com.br/ )

quarta-feira, 22 de junho de 2011

SANTOS JOÃO FISHER E TOMÁS MORE

SANTOS JOÃO FISHER E TOMÁS MORE

Mártires

Memória

– Um testemunho de fé até o martírio.

– Fortaleza e vida de oração.

– Coerência cristã e unidade de vida.

João Fisher foi ordenado sacerdote em 1491. Exerceu diversos cargos na Universidade de Cambridge, ao mesmo tempo que assumia a direção espiritual da Rainha Margarida, mãe de Henrique VII, passando a ocupar mais tarde a cátedra de Teologia que a rainha fundara nessa Universidade. Em princípios de 1504, foi nomeado reitor de Cambridge, e no final do ano sagrado bispo de Rochester, a menor e mais pobre diocese da Inglaterra; dois dias mais tarde, tomou posse do seu posto como membro do Conselho do Rei.

Tomás More fez estudos de Literatura e Filosofia em Oxford e de Direito em New Inn. Em 1504, foi eleito membro do Parlamento e ocupou diversos cargos públicos, alcançando um grande prestígio pelo seu conhecimento das leis e pela sua honradez. Apesar da sua intensa vida profissional, sempre arranjou tempo para se dedicar à família, sua grande ocupação, e aos estudos literários ou históricos; publicou vários livros e ensaios. Em 1529, foi nomeado Lord-Chanceler da Inglaterra, apesar de já ter respondido claramente ao Rei que não podia estar de acordo com a dissolução do casamento real.

Ambos morreram decapitados em 1535 por se terem negado a reconhecer a supremacia de Henrique VIII sobre a Igreja da Inglaterra e a anulação do casamento do Rei.

I. EM 1534, NA INGLATERRA, exigiu-se de todos os cidadãos que jurassem a Ata de Sucessão, pela qual se reconhecia como verdadeiro casamento a união de Henrique VIII com Ana Bolena. O Rei era proclamado Chefe supremo da Igreja na Inglaterra, negando-se ao Papa qualquer autoridade. João Fisher, bispo de Rochester, e Tomás More, Chanceler do Reino, recusaram-se a jurar a Ata, e foram encarcerados em abril de 1534 e decapitados no ano seguinte.

Num momento em que muitos se dobraram à vontade real, incluídos os bispos, o juramento desses homens teria passado despercebido e eles teriam conservado a vida, os bens e os cargos, como tantos outros1. No entanto, ambos foram fiéis à fé até o martírio. Souberam dar a vida porque foram homens que viveram plenamente a sua vocação cristã, até as últimas conseqüências.

Tomás More é uma figura muito próxima de nós, pois foi um cristão corrente, que soube compaginar bem a sua vocação de pai de família com a profissão de advogado e mais tarde com a responsabilidade de Chanceler do Reino, logo abaixo do Rei, numa perfeita unidade de vida. Desenvolvia-se no mundo como se estivesse na sua própria casa; amava todas as realidades humanas que constituíam a trama da sua vida, onde Deus o quis. Ao mesmo tempo, viveu um desprendimento dos bens e um amor à Cruz tão grandes que se pode dizer que deles extraiu toda a sua fortaleza e coragem.

Tomás More tinha o costume de meditar todas as sextas-feiras nalguma passagem da Paixão de Nosso Senhor. Quando os filhos ou a esposa se queixavam das dificuldades e contrariedades do dia-a-dia, dizia-lhes que não podiam pretender “ir para o Céu num colchão de penas” e recordava-lhes os sofrimentos padecidos por Cristo, e que o servo não é maior do que o seu senhor. Além de aproveitar as contrariedades para identificar-se com a Cruz, More fazia outras penitências. Levava freqüentemente à flor da pele, escondida, uma camisa de pêlo áspero. Foi fiel a esta prática durante a prisão na Torre de Londres, apesar de não serem pequeno incômodo o frio, a umidade da cela e as privações de todo o tipo que passou naqueles longos meses2. Encontrou na Cruz a sua fortaleza.

Nós, que procuramos seguir Cristo de perto no meio do mundo e dar dEle um testemunho silencioso, encontramos forças e coragem no desprendimento, no sacrifício diário e na oração?

II. QUANDO TOMÁS MORE teve que pedir demissão do seu cargo de Lord-Chanceler, por não concordar em jurar a Ata, reuniu os familiares para expor-lhes o futuro que os aguardava e tomar medidas em relação à situação econômica. “Vivi – disse-lhes, resumindo a sua carreira – em Oxford, na hospedaria da Chancelaria..., e também na Corte do rei..., do mais baixo ao mais alto. Atualmente, disponho de pouco mais de cem libras por ano. Se temos de continuar juntos, todos devemos contribuir com a nossa parte; penso que o melhor para nós é não descermos de uma só vez ao nível mais baixo”. E sugere-lhes uma acomodação gradual, recordando-lhes que se podia viver feliz em cada nível. E se nem sequer pudessem sustentar-se no nível mais baixo, aquele que vivera em Oxford, “então – disse-lhes com paz e bom humor – resta-nos a esperança de irmos juntos pedir esmola, com sacolas e bolsas, e confiar em que alguma boa pessoa sinta compaixão de nós [...]; mas mesmo então haveremos de manter-nos juntos, unidos e felizes”3.

Nunca permitiu que nada quebrasse a unidade e a paz familiar, nem mesmo quando se ausentava ou quando foi preso. Viveu desprendido dos bens enquanto os teve, e alegre quando deixou de contar com o indispensável. Sempre soube estar à altura das circunstâncias. Sabia como celebrar um acontecimento, mesmo na prisão. Um biógrafo, seu contemporâneo, diz que, estando preso na Torre, costumava vestir-se com mais elegância nos dias de festa importantes, na medida em que o seu escasso vestuário lho permitia. Sempre manteve a alegria e o bom humor, mesmo no momento em que subia ao cadafalso, porque se apoiou firmemente na oração.

“Dai-me, meu bom Senhor, a graça de esforçar-me por conseguir as coisas que te peço na oração”, rezava. Não esperava que Deus fizesse por ele o que, com um pouco de esforço, podia conseguir por si mesmo. Trabalhou com empenho ao longo de toda a vida até chegar a ser um advogado de prestígio antes de ser nomeado Chanceler, mas nunca esqueceu a necessidade da oração, ainda que muitas vezes não lhe fosse fácil, sobretudo nas circunstâncias tão dramáticas do processo e dos meses de absoluto isolamento na prisão, enquanto esperava o dia da execução. Nesses dias derradeiros, escreveu uma longa oração em que, entre muitas piedosas e comovedoras considerações de um homem ciente de que vai morrer, exclamava: “Dai-me, meu Senhor, um anelo grande de estar convosco, não para evitar as calamidades deste pobre mundo, nem as penas do purgatório ou tampouco as do inferno, nem para alcançar as alegrias do Céu, nem por consideração do meu proveito, mas simplesmente por autêntico amor a Ti”4.

São Tomás More apresenta-se sempre aos nossos olhos como um homem de oração; assim pôde ser fiel aos seus compromissos como cidadão e como fiel cristão em todas as circunstâncias, em perfeita unidade de vida. Assim devemos ser todos e cada um de nós. “Católico, sem oração?... É como um soldado sem armas”, diz Mons. Escrivá5.

III. GIVE ME THY GRACE, good Lord, to set the world at nought... “Dai-me a vossa graça, meu bom Senhor, para que tenha o mundo em nada, para que a minha mente esteja bem unida a Vós e não dependa das variáveis opiniões alheias [...]; para que pense em Deus com alegria e implore ternamente a sua ajuda; para que me apóie na fortaleza de Deus e me esforce ansiosamente por amá-lo...; para lhe dar graças sem cessar pelos seus benefícios; para redimir o tempo que perdi...”6 Assim escrevia o Santo nas margens doLivro das Horas que tinha na Torre de Londres. Eram os dias em que se consagrava a contemplar a Paixão, preparando assim a sua própria morte em união com Cristo na Cruz.

Mas São Tomás More não viveu de olhos postos em Deus somente naqueles momentos supremos. O seu amor a Deus manifestara-se diariamente no seu comportamento em casa, sempre simples e afável, no exercício da advocacia, e por fim no mais alto cargo público da Inglaterra, como Lord-Chanceler. Cumprindo à risca os seus deveres diários, umas vezes importantes, outras menos, santificou-se e ajudou os outros a encontrar a Deus.

Entre os muitos exemplos de um apostolado eficaz que nos deixou, destaca-se o que levou a cabo com o seu genro, que tinha caído na heresia luterana. “Tive paciência com o teu marido – dizia à sua filha Margaret – e argumentei e debati com ele sobre esses pontos da religião. Dei-lhe além disso o meu pobre conselho paterno, mas vejo que de nada serviu para que voltasse novamente ao redil. Por isso, Meg, não tornarei a discutir com ele, mas vou deixá-lo inteiramente nas mãos de Deus, e vou rezar por ele”7. As palavras e as orações de Tomás More foram eficazes, e o marido da sua filha voltou à plenitude da fé, foi um cristão exemplar e sofreu muito por ter sido conseqüente com a fé católica.

São Tomás More está diante de nós como modelo vivo da nossa conduta de cristãos. É “semente fecunda de paz e de alegria, como o foi a sua passagem pela terra entre a sua família e amigos, no foro, na cátedra, na Corte, nas embaixadas, no Parlamento e no Governo. É também o padroeiro silencioso da Inglaterra, que derramou o seu sangue em defesa da unidade da Igreja e do poder espiritual do Vigário de Cristo. E como o sangue dos cristãos é semente que germina, o de Tomás More vai lentamente penetrando e impregnando as almas dos que dele se aproximam, atraídos pelo seu prestígio, doçura e fortaleza. More será o apóstolo silencioso do retorno à fé de todo um povo”8.

Pedimos a João Fisher e a Tomás More que saibamos imitá-los na sua coerência cristã para sabermos viver em todas as circunstâncias da nossa vida como o Senhor espera que vivamos, nas coisas grandes e nas pequenas. Pedimos com palavras da liturgia da festa: Senhor, Vós que quisestes que o testemunho do martírio fosse expressão perfeita da fé, concedei-nos, Vos pedimos, que por intercessão de São João Fisher e de São Tomás More, ratifiquemos com uma vida santa a fé que professamos com os lábios9.

(1) cfr. A. Prévost, Tomás Moro y la crisis del pensamiento europeo, Palabra, Madrid, 1972, pág. 392; (2) cfr. T. J. McGovern, Tomás Moro, un hombre para la eternidad, Madrid, 1984, págs. 22-23; (3) Roper’s Life of More, cit. por T. J. Govern, op. cit., pág. 31; (4) T. More, Cartas da Torre; (5) Josemaría Escrivá, Sulco, n. 453; (6) T. More,op. cit.; (7) N. Haspsfield, Sir Thomas More, Londres, 1963, pág. 102; (8) A. Vázquez de Prada, Sir Tomás Moro, 3ª ed., Rialp, Madrid, 1975, págs. 15-16; (9) Oração coleta da Missa do dia 22 de junho.

terça-feira, 21 de junho de 2011

Não acumuleis tesouros na terra

Concílio Vaticano II
Mensagem aos governantes

«Não acumuleis tesouros na terra»
Neste momento solene, nós, os Padres do XXI Concílio Ecuménico da Igreja Católica, ao dispersarmo-nos depois de quatro anos de oração e de trabalhos, na plena consciência da nossa missão para com a humanidade, dirigimo-nos com respeito e confiança àqueles que têm nas suas mãos o destino dos homens na terra, a todos os depositários do poder temporal.


Nós proclamamos altamente: prestamos honra à vossa autoridade e à vossa soberania; respeitamos a vossa função; reconhecemos as vossas leis justas; estimamos aqueles que as fazem e aqueles que as aplicam. Mas temos uma palavra sagrada a dizer-vos, e é esta: só Deus é grande. Só Deus é o princípio e o fim. Só Deus é a fonte da vossa autoridade e o fundamento das vossas leis.


É a vós que pertence ser na terra os promotores da ordem e da paz entre os homens. Mas não esqueçais: é Deus, o Deus vivo e verdadeiro, que é o Pai dos homens. E é Cristo, o Seu Filho eterno, Quem nos veio dizer e ensinar que somos todos irmãos. É Ele o grande artífice da ordem e da paz na terra, porque é Ele Quem dirige a história humana e o Único que pode levar os corações a renunciar às más paixões que geram a guerra e a infelicidade. É Ele Quem abençoa o pão da humanidade, Quem santifica o seu trabalho e o seu sofrimento, Quem lhe dá alegrias que vós não podeis dar, Quem a reconforta nas dores que vós não podeis consolar. Na vossa cidade terrestre e temporal, Ele constrói misteriosamente a Sua cidade espiritual e eterna, a Sua Igreja.

sexta-feira, 13 de maio de 2011

NOSSA SENHORA DE FÁTIMA



NO DIA 13 DE MAIO de 1917, por volta do meio-dia, Nossa Senhora apareceu pela primeira vez, numa região do centro de Portugal, a três pastorzinhos – Lúcia, Jacinta e Francisco – que tinham levado as suas ovelhas para pastar numa depressão coberta de azinheiras e de oliveiras que os habitantes do lugar conheciam por Cova da Iria1. A Virgem pediu aos meninos que voltassem ali no dia treze de cada mês, durante seis meses consecutivos. A mensagem que Nossa Senhora foi desfiando ao longo desses meses era uma mensagem de penitência pelos pecados que se cometem diariamente; a recitação do terço por essa mesma intenção; e a consagração do mundo ao seu Imaculado Coração.

Em cada aparição, a doce Senhora insistiu na recitação do terço, e ensinou aos videntes uma oração para que a repetissem muitas vezes, oferecendo a Deus as suas obras e, em especial, pequenas mortificações e sacrifícios: Ó Jesus!..., por teu amor, pela conversão dos pecadores e em reparação das ofensas feitas ao Imaculado Coração de Maria.

Em agosto, a Virgem prometeu um sinal público, visível por todos, como prova da veracidade dessas mensagens, e no dia 13 de outubro aconteceu o chamado prodígio do sol. Dezenas de milhares de peregrinos, presentes na Cova da Iria, foram testemunhas desse fato extraordinário, que chegou a ser visto por pessoas que estavam a muitos quilômetros do lugar. Nossa Senhora declarou então aos meninos que era a Virgem do Rosário. Também lhes disse: "É preciso que os homens se emendem, que peçam perdão dos seus pecados e não ofendam mais a Nosso Senhor, que já é muito ofendido".

O Papa João Paulo II, recordando a sua peregrinação a Fátima, onde esteve "com o terço na mão, o nome de Maria nos lábios e o canto de misericórdia no coração", para dar graças a Nossa Senhora por ter saído com vida do atentado sofrido no ano anterior, sublinhou que "as aparições de Fátima, comprovadas por sinais extraordinários em 1917, vêm a ser como que um ponto de referência e de irradiação para o nosso século. Maria, nossa Mãe celestial, apareceu para sacudir as consciências, para iluminar o autêntico significado da vida, para estimular à conversão do pecado e ao fervor espiritual, para inflamar as almas de amor a Deus e de caridade com o próximo. Maria veio socorrer-nos, porque muitos, infelizmente, não querem acolher o convite do Filho para regressarem à casa do Pai.

"Do seu Santuário de Fátima, Maria renova ainda hoje o seu apelo materno e premente: a conversão à Verdade e à Graça; a vida sacramental, especialmente a Penitência e a Eucaristia, e a devoção ao seu Coração Imaculado, acompanhada pelo espírito de penitência"2.

Hoje podemos perguntar-nos como anda a nossa correspondência às freqüentes inspirações do Espírito Santo para que purifiquemos a alma, como desagravamos o Senhor pelos pecados pessoais e pelos de todos os homens, como rezamos o terço – especialmente neste mês de maio –, oferecendo-o por "intenções ambiciosas", pedindo que muitos amigos e colegas se aproximem novamente de Cristo.

"A MENSAGEM DE FÁTIMA é, no seu núcleo fundamental, uma chamada à conversão e à penitência [...]. A Senhora da mensagem parecia ler com uma perspicácia especial os sinais dos tempos, os sinais do nosso tempo"3. Hoje, na nossa oração, chega-nos essa voz doce, maternal, e ao mesmo tempo enérgica e decidida da Virgem, que é premente, como que dirigida pessoalmente a cada um de nós.

Sabemos bem como ao longo de todo o Evangelho ressoam as palavras: Arrependei-vos e fazei penitência4. Jesus começará a sua missão pedindo penitência: Fazei penitência, porque o Reino dos Céus está próximo5. E acrescentará noutra ocasião: "Se não fizerdes penitência, todos perecereis"6. É por isso que a pregação desta virtude ocupará também um lugar essencial na mensagem que os Apóstolos irão difundir, recém-nascida a Igreja7. Todo o tempo da Igreja peregrina, no qual nos encontramos, configura-se como spatium verae poenitentiae, um tempo de verdadeira penitência concedido pelo Senhor para que ninguém pereça8.

A penitência é necessária porque existe o pecado, porque é preciso reparar tantas faltas e fraquezas pessoais e dos nossos irmãos os homens, e porque ninguém, sem um privilégio especial e extraordinário, está confirmado na graça, antes deve ter uma consciência muito viva de que é um pecador. O Cura d'Ars costumava dizer que a penitência nos é tão necessária para a alma como a respiração para o corpo9.

A primeira manifestação desta virtude é o amor à confissão freqüente, que nos leva a desejá-la e a vivê-la com esmero, com uma contrição verdadeira das nossas faltas atuais e passadas. A virtude da penitência deve também estar presente de alguma maneira nas ações correntes de todos os dias: "no cumprimento exato do horário que marcaste, ainda que o corpo resista ou a mente pretenda evadir-se em sonhos quiméricos. Penitência é levantar-se na hora. E também não deixar para mais tarde, sem um motivo justificado, essa tarefa que te é mais difícil ou trabalhosa.

"A penitência está em saberes compaginar todas as tuas obrigações – com Deus, com os outros e contigo próprio –, sendo exigente contigo de modo que consigas encontrar o tempo de que cada coisa necessita. És penitente quando te submetes amorosamente ao teu plano de oração, apesar de estares esgotado, sem vontade ou frio.

"Penitência é tratar sempre com a máxima caridade os outros, começando pelos da tua própria casa. É atender com a maior delicadeza os que sofrem, os doentes, os que padecem. É responder com paciência aos maçantes e inoportunos. É interromper ou modificar os programas pessoais, quando as circunstâncias – sobretudo os interesses bons e justos dos outros – assim o requerem.

"A penitência consiste em suportar com bom humor as mil pequenas contrariedades da jornada: em não abandonares a tua ocupação, ainda que de momento te tenha passado o gosto com que a começaste; em comer com agradecimento o que nos servem, sem importunar ninguém com caprichos.

"Penitência, para os pais e, em geral, para os que têm uma missão de governo ou educativa, é corrigir quando é preciso fazê-lo, de acordo com a natureza do erro e com as condições de quem necessita dessa ajuda, sem fazer caso de subjetivismos néscios e sentimentais.

"O espírito de penitência leva a não nos apegarmos desordenadamente a esse bosquejo monumental de projetos futuros, em que já previmos quais serão os nossos traços e pinceladas mestras. Que alegria damos a Deus quando sabemos renunciar às nossas garatujas e broxadas de mestrinho, e permitimos que seja Ele a acrescentar os traços e as cores que mais lhe agradem!"10 Que maravilhosa obra-prima não surge então, com a ajuda da graça, aos olhos de Deus!


UMA PARTE DA MENSAGEM de Fátima era o desejo da Virgem de que se consagrasse o mundo ao seu Coração Imaculado. Onde haverá de estar mais seguro o mundo? Onde estaremos mais bem defendidos e amparados? Esta consagração "significa aproximarmo-nos, por intercessão da Mãe, da própria fonte da Vida, que brotou do Gólgota. Esta fonte corre ininterruptamente, e dela jorram a Redenção e a graça. Nela se realiza constantemente a reparação dos pecados do mundo. Este manancial é fonte incessante de vida e de santidade"11.

Pio XII (cuja ordenação episcopal teve lugar precisamente a 13 de maio de 1917, dia da primeira aparição) consagrou o gênero humano e especialmente os povos da Rússia ao Coração Imaculado de Maria12. João Paulo II quis renová-la e a ela podemos unir-nos hoje: "Ó Mãe dos homens e dos povos, Vós que conheceis todos os seus sofrimentos e esperanças, Vós que sentis maternalmente todas as lutas entre o bem e o mal, entre a luz e as trevas que invadem o mundo contemporâneo, acolhei este clamor que, como que movidos pelo Espírito Santo, elevamos diretamente ao vosso coração, e abraçai com o amor da Mãe e da Serva este nosso mundo, que colocamos sob a vossa confiança e Vos consagramos, cheios de inquietação pela sorte terrena e eterna dos homens e dos povos.

"De modo particular, colocamos sob a vossa confiança e Vos consagramos os homens e nações que necessitam especialmente desta consagração. Sob a vossa proteção nos acolhemos, Santa Mãe de Deus. Não desprezeis as súplicas que Vos dirigimos nas nossas necessidades!

"Não as desprezeis!

"Acolhei a nossa humilde confiança e entrega!"13

Santa Maria, sempre atenta ao que lhe pedimos, fará com que encontremos refúgio e amparo no seu Coração Puríssimo.



(1) C. Barthas, Fátima, Aster, Lisboa, pág. 426; (2) João Paulo II, Angelus, 26-VII-1987; (3) idem, Homilia em Fátima, 13-V-1982; (4) cfr. Mc 1, 15; (5) Mt 4, 17; (6) Lc 13, 3; (7) cfr. At 2, 38; (8) cfr. 2 Pe 3, 9; (9) Cura d'Ars, Sermão sobre a Penitência; (10) Josemaría Escrivá, Amigos de Deus, n. 138; (11) João Paulo II, Homilia em Fátima, 26-VII-1987; (12) Pio XII, Radio-mensagem Benedicite Deum, 31-X-1942; (13) João Paulo II, Consagração à Virgem de Fátima, 13-V-1982.