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Votar bem
(17 de agosto de 2010)
Prezados irmãos e irmãs
As eleições 2010 estão à porta e esperam, de cada um de nós, uma resposta adequada ao momento que vivemos. Os Bispos do Regional Sul 1 da CNBB publicamos algumas orientações aos nossos fiéis para a participação consciente e responsável no processo político-eleitoral deste ano. Na verdade, essas orientações são conhecidas de todos, pois tratam da responsabilidade que cada um temos com o destino político de nossa Nação.
Um questionamento que surge em todas as eleições é sobre a participação da Igreja no processo político. Qual deve ser a postura dos padres, comunidades, comissões, movimentos, etc? Muitos afirmam que o campo da Igreja é o religioso e que o social e político devem ficar com quem é de direito.
É importante que façamos algumas considerações.
A primeira, e mais importante, é que tenhamos a clareza que a Igreja só tem razão de ser se for Missionária. E a Missão da Igreja é anunciar Jesus Cristo, através do testemunho de uma vida doada no serviço aos irmãos e irmãs, principalmente dos que mais precisam. Isso é básico! Seguir e testemunhar Jesus Cristo não nos permite departamentalizar nossa vida, sendo religiosos quando vamos às celebrações, profissionais em nossos empregos, deputados nos parlamentos, prefeitos na prefeitura, etc. Ou somos cristãos em todos os lugares ou não somos cristãos.
Por isso, não é possível a um cristão assistir a desmandos políticos, como os mensalões, desvios de verbas públicas, mau atendimento médico e escolar, pessoas jogadas nas ruas, apoio a políticas contra a vida como o aborto, por exemplo, sem se posicionar radicalmente em favor da vida. Isso é ser cristão.
Assim, cabe à Igreja, sim, manifestar aos seus fiéis o compromisso que o seu voto deve ter com a vida, não votando em pessoas de má índole que buscam na política uma maneira de conquistar benefícios financeiros pessoais, que causam situações de morte para milhares outras pessoas.
Nós bispos, padres, diáconos e lideranças leigas temos uma forte influência na opinião do povo. Como cidadãos brasileiros que somos, temos todo o direito, e também o dever, de escolher criteriosamente os nossos candidatos. E o fazemos, sim. Porém, não devemos manifestar publicamente essa nossa escolha, tendo em vista que são muitas as pessoas que têm visões, partidos e candidatos diferentes dos nossos, escolhidos a partir dos mesmos critérios. Esse posicionamento diferente merece o nosso respeito.
Por esta razão, a Igreja pede que as lideranças religiosas não se posicionem explicitamente por um candidato ou partido político, pois, como o próprio nome diz, partido é uma parte que não contempla o todo. A Comunidade cristã só cresce respeitando a diversidade que leva à unidade que é Jesus Cristo.
Tenha a consciência de pesquisar sobre a vida do seu candidato/a escolhido, para conhecer o seu modo de pensar e agir, analisando se essa pessoa é capaz de governar para toda a sociedade, promovendo o bem comum no enfrentamento aos principais problemas que afetam a nossa sociedade. O povo continua a sofrer com a falta de saúde, educação, moradia, com a crescente violência, etc. Apesar dos abusivos impostos que todos pagamos, a sociedade se vê obrigada a recorrer a escolas particulares, planos de saúde, segurança privada... E isso, logicamente, para quem pode pagar.
Rogo a Deus que ilumine o povo brasileiro e que os eleitos pelas urnas sejam pessoas comprometidas com o bem social.
Dom Bruno Gamberini
Arcebispo Metropolitano de Campinas